Gestão de Estoque
Dentre todos os processos internos das empresas, a gestão de estoque é sem dúvida de grande importância e um dos que tem maior impacto no fluxo de caixa e nos resultados operacionais. Antes de mais nada, devemos analisar detalhadamente a necessidade de mantermos estoques:
- Atendimento imediato aos clientes, sem perda de oportunidades de venda
- Lotes mínimos negociados com os fornecedores com condições favoráveis de descontos
- Ganhos potenciais em caso de aumentos de preço
Essas devem ser as principais razões para manter um estoque. Porém, podemos fazer essa análise sob o ponto de vista do Sistema Toyota de Produção (TPS em inglês), que criou o Lean Manufacturing (Produção Enxuta) ainda na década de 1950, como metodologia de alta eficiência na produção de bens e veículos automotores.
A partir da década de 1990 o TPS se tornou referência mundial quando da publicação do livro “A Máquina que mudou o Mundo“, escrita por James P. Womack e Daniel T. Jones. Eles descreveram detalhadamente as ferramentas administrativas que levaram a Toyota, de pequena empresa familiar, a ser uma das maiores montadoras de veículos do mundo e referência quando pensamos em qualidade, confiabilidade, alto valor de revenda, entre outros bons adjetivos. Pois bem, sob o ponto de vista da Produção Enxuta, os estoques representam desperdícios!
Vamos analisar isso sob a ótica da Toyota?
- Estoques representam capital parado nas prateleiras e, muitas vezes, a empresa vai captar recursos nos bancos para bancar esses mesmos estoques e suas operações diárias e necessidades de fluxo de caixa
- Algumas peças ficam obsoletas e não tem mais a mesma saída. Isso é um fato evidente nesse mercado. Os lançamentos ocorrem numa velocidade bem grande. Além disso, temos também veículos importados do mundo inteiro, o que representa uma gama enorme a ser atendida
- Algumas peças podem sofrer avarias e serem danificadas durante a operação
- Outras podem se perder por extravio ou mesmo roubo
Em resumo: quanto maior estoque, maiores os fatores que levam ao desperdício! Na Toyota e em boa parte das montadoras com uma gestão eficiente, o estoque dura alguns minutos. A reposição ocorre no mesmo ritmo da produção (controlada pela demanda), em um sistema conhecido como Milk Run ou, Roda do Leite, baseado nas coletas de leite das fazendas. Tudo isso dá bastante trabalho para se programar, mas o resultado é alta eficiência.
Os benefícios de uma gestão eficiente dos estoques já ficaram evidentes, mas um dos grandes beneficiados é o fluxo de caixa mais robusto, com maior geração de capital de giro. E, com mais capital de giro ou mais caixa, muda o poder de negociação com os fornecedores. Pode-se passar a pagar à vista ou até antecipado (dependendo da estratégia da organização), criando-se condições favoráveis de maiores descontos e até no cumprimento de menores prazos de entrega.
Na prática
Mas talvez você, caro leitor, deva estar se perguntando: Como colocar tudo isso na prática? Como calcular nosso nível ideal de estoques? Ou até: “Isso tudo me parece ser bem arriscado!”. Na verdade, a forma de se calcular o ponto de pedido e o estoque de segurança é bem conhecida. Parametrizando esses dados nos sistemas de gestão, entretanto, devemos – antes de tudo – entender a demanda, ou seja, a necessidade de nossos clientes. Como estamos falando em Sistema Toyota de Produção, tudo o que acontece é baseado na visão e na necessidade do cliente, sendo esse nosso ponto de partida.
Um estudo aprofundado da demanda (histórico de vendas), da tendência (vai se manter?), da disponibilidade dos fornecedores (confiabilidade medida de forma percentual) e das curvas ABC e XYZ é que vão determinar toda a estratégia. Esse é o ponto de partida para colocarmos essa metodologia em prática.
Uma vez determinados o Ponto de Pedido e o Estoque de Segurança (fórmulas no final deste artigo), devemos eleger entre 50 a 100 produtos de maior demanda e começar por esses na aplicação dessa ferramenta. Depois de medirmos os resultados continuamos a implementação no restante dos itens. Assim fica mais fácil de acompanhar os resultados ou corrigir alguma falha antes da total implementação. É claro que devemos ter uma estratégia ampliada, pensando em qual nicho de mercado pretendemos atingir considerando, inclusive, itens obsoletos em estoque.
Uma vez implementado e chegando ao nível de eficiência (não ter excessos ou falta de produtos), tudo deve ser reanalisado no sentido de se baixar ainda mais os níveis de estoque até o próximo nível considerado seguro, melhorando ainda mais a eficiência e, principalmente a lucratividade.
Quanto mais eficientes na gestão de estoque, maiores nossos potenciais de lucro, pois: uma boa venda começa numa boa compra! Só não podemos comprar em excesso. Isso deve ser feito pensando na demanda e na necessidade dos nossos clientes.
Essas são as fórmulas simplificadas. Dependendo das características do negócio, outras flutuações devem ser levadas em conta, incrementando as fórmulas.
Modelo de Negócio
Vamos agora mudar o ponto de vista e analisar de forma mais abrangente o modelo de negócio de autopeças e o impacto do estoque. As rápidas mudanças no mercado e na economia oscilante, que devem permear as decisões dos proprietários deste ramo.
A queda da venda dos automóveis novos e o aumento do comércio de usados refletem o menor poder aquisitivo e a preocupação dos brasileiros quanto a economia e segurança do emprego. Desta forma, o setor “After Market – reposição” cresceu muito nos últimos 3 anos e a competição aumentou, uma vez que as fabricantes direcionam sua produção para este segmento dada a queda de produção e vendas das montadoras. Isso reflete diretamente em análise de mercado e a decisão sobre quais produtos eleger para formar o mix e o estoque como estratégia de negócio. A questão dos produtos importados e oscilações cambiais também influenciam na hora da compra e venda. Neste ponto, vale a ressalva dos controles financeiros e o markup certo para evitar prejuízo.
Um exemplo de raciocínio sobre a estratégia neste setor é a pastilha de freio de carros importados com mais de 2 anos. É sabido que a troca é feita, em média, a cada 2 anos e se o empreendedor buscar na Fenabrave os emplacamentos de carros importados em 2016 saberá por marca e modelo quais terão mais probabilidade de procura na reposição. Isso é estratégico na hora de decidir as compras. É possível se basear nessas informações para não deixar mercadorias paradas e nem faltar para venda.
Outra recomendação é a de se manter atualizado com notícias e legislação do segmento e verificar aumento de demanda. Por exemplo, a Lei do Contran proíbe qualquer alteração no conjunto de luzes de todos os veículos a partir de 2021. Será proibido instalar luzes de led ou xenônio em um carro que saiu de fábrica com lâmpadas halogenas nos faróis. Desta forma, o empresário deve se programar para liquidar os estoques antes que a lei entre em vigor a fim de não se prejudicar com o estoque parado.
Tecnologia
Investir em tecnologia, com sistemas WMS para gestão de estoque e logística é item necessário para as empresas de médio e grande porte. Os recursos de endereçamento no estoque, código de barras, cubagem, inventários, lotes de fabricação (principalmente para controle de produtos perecíveis), tipo de uso e tipo de armazenagem, além de tornar a empresa mais ágil, evita erros e retrabalho. Se a estratégia de canais de comercialização for voltada para pessoa física vale a pena avaliar a possibilidade de incluir comércio eletrônico. Aqui, a cubagem sera essencial para o cálculo de frete.
*Escrito por Haroldo Eiji Matsumoto, consultor de estratégia e Newton Masteguin, consultor de processos, ambos da Prosphera Educação Corporativa, empresa de consultoria especializada em gestão de negócios.
O artigo original da revista você encontra nesse link.
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